Filho, eu e sua mãe decidimos fumar um baseado com você.
Juninho ficou olhando pros pais, sem acreditar. Eles estavam ali dizendo que, depois de tantos anos insistindo em conselhos, castigos e até orações, resolveram experimentar pra ver o que afinal o filho tanto via num cigarro de maconha. O importante era a união da família.
Dez minutos depois os três estavam sentados no quarto do Juninho. Terminaram de fumar. Juninho, que ainda não acreditava, recusara-se a fumar também. Inventara uma desculpa qualquer mas a verdade é que alguém tinha de ficar careta pra segurar a onda.
- Não tô sentindo nada - reclamou a mãe.
- Calma, Vanda, demora um pouco - explicou o pai com ar de entendido. - Não é, Juninho?
- Você tá bem, mãe?
- Tô ótima, quer dizer, tô normal. Normalíssima - respondeu a mãe, rindo.
- Eu também - disse o pai. - Aliás, nunca me senti tão normal em minha vida.
- Mãe, qualquer coisa tem leite na geladeira, viu?
- Engraçado... Vanda, há algo errado com minhas orelhas?
- Suas orelhas? - A mulher olhou curiosa pras orelhas do marido. - Não, por quê?
- Estou sentindo elas maiores... - Ele apalpava as orelhas, intrigado.
- É normal, pai. É viagem.
- É normal as orelhas crescerem? - perguntou o pai, indo conferir no espelho do banheiro.
- Pois eu continuo normalíssima - observou a mãe, rindo do marido. - Eu e minhas orelhas.
- Tem gente que não viaja da primeira vez, mãe.
- Vanda! - gritou o marido de repente. - Vanda, vem aqui correndo!
A mulher correu assustada. Chegou ao banheiro e deu com o marido se observando atentamente ao espelho.
- Eu sempre fui assim, Vanda? Sempre?
- Assim como? - Ela não compreendia. O filho, atrás dela, muito menos.
- Como você pôde aturar essa barba horrorosa durante todos esses anos, Vanda? Heim?
- Não vem com essa, Afonso. Você sempre disse que era o seu charme... - respondeu a mulher, surpresa.
- Pai... - Juninho começava a se preocupar.
- Minhas preces foram ouvidas! - A mulher ria, voltando pro quarto.
- Acho que eu ficaria melhor sem barba...
- Mãe, não deixe... - Juninho correu pra mãe, assustado com o rumo das coisas. - Isso é viagem, mãe, é viagem!...
- Então não se meta na viagem de seu pai... - ralhou a mãe, beliscando o menino, sem conseguir parar de rir.
- Vanda, faz quantos anos que você não solta seu cabelo? - perguntou o marido de volta do banheiro, retirando de repente a fivela da cabeça da mulher.
- Eu? - Ela, surpresa, tentou impedir mas foi tarde. - Afonso! Dá aqui, dá!
- Não fica melhor assim, filho, não fica? Eu sempre disse mas ela nunca escutou.
- Pai, eu acho que... será que...
- Juninho, você tem algum bolero aí pra eu dançar com sua mãe? O que é isso aqui?
- Ann, Raimundos, pai. Acho que você não vai gostar muito não...
- Tá vendo, Vanda? Precisamos comprar uns cedês pra nós dois.
- Pai, bota um pouco desse colírio aqui...
- Afonso... - disse a mulher, o tom da voz levemente lânguido, como havia muito tempo ela não experimentava. - A noite está ótima... Bem que a gente podia ir dançar no clube. Diz que hoje tem um conjunto bárbaro...
- Sabe que você teve uma grande idéia, Vanda?
- Pai, não precisava pingar tanto. Mãe, você tem certeza que...
- Enquanto você reserva a mesa vou tomar logo meu banho, Afonso - falou a mulher correndo pro banheiro. - Será que ainda sei dançar?...
- E por que a gente não toma banho junto? Economiza água...
Naquela noite eles voltaram pra casa às quatro da manhã. Juninho ainda rolava na cama, preocupado. Não conseguira dormir e tampouco conseguira estudar pra prova. Escutou abrirem a porta e experimentou um alívio imenso. Os dois entraram se esforçando pra não fazer barulho - mas não conseguiram.
- Afonso, você ficou um pão sem a barba...
- Aqui não, Vanda, vai acordar o Juninho...
Juninho não conseguia pegar no sono. Não lembrava de ter alguma vez se preocupado daquela maneira com os pais. Não devia ter permitido, sabia que não devia. E se tiverem realmente gostado? E se ficassem viciados, o que podia acontecer? Seu pai tirara a barba depois de 5 anos, ficara tão estranho, não conseguira olhar direito pra ele. E se chamarem os amigos pra fumar, o que eles acharão? E o trabalho do pai, não podia prejudicar? E a mãe então, nunca vira a mãe rir tanto, parecia uma... uma débil mental. E se dessem muita bandeira e a polícia descobrisse? - a vergonha que seria... Não podia fazer mal à saúde deles? Não era perigoso fumar e sair por aí?
Por fim eles se recolheram ao quarto. Juninho virou pro lado e fechou os olhos, tentando esquecer, tinha de acordar cedo, quase não dormiria. Bom, talvez fosse só empolgação, primeira vez dá nisso mesmo. Pai e mãe são muitos inexperientes pra fumar maconha. Mas ainda ouviu a voz da mãe, um segundo antes de fechar a porta:
- Onde será que ele guarda?
Juninho ficou olhando pros pais, sem acreditar. Eles estavam ali dizendo que, depois de tantos anos insistindo em conselhos, castigos e até orações, resolveram experimentar pra ver o que afinal o filho tanto via num cigarro de maconha. O importante era a união da família.
Dez minutos depois os três estavam sentados no quarto do Juninho. Terminaram de fumar. Juninho, que ainda não acreditava, recusara-se a fumar também. Inventara uma desculpa qualquer mas a verdade é que alguém tinha de ficar careta pra segurar a onda.
- Não tô sentindo nada - reclamou a mãe.
- Calma, Vanda, demora um pouco - explicou o pai com ar de entendido. - Não é, Juninho?
- Você tá bem, mãe?
- Tô ótima, quer dizer, tô normal. Normalíssima - respondeu a mãe, rindo.
- Eu também - disse o pai. - Aliás, nunca me senti tão normal em minha vida.
- Mãe, qualquer coisa tem leite na geladeira, viu?
- Engraçado... Vanda, há algo errado com minhas orelhas?
- Suas orelhas? - A mulher olhou curiosa pras orelhas do marido. - Não, por quê?
- Estou sentindo elas maiores... - Ele apalpava as orelhas, intrigado.
- É normal, pai. É viagem.
- É normal as orelhas crescerem? - perguntou o pai, indo conferir no espelho do banheiro.
- Pois eu continuo normalíssima - observou a mãe, rindo do marido. - Eu e minhas orelhas.
- Tem gente que não viaja da primeira vez, mãe.
- Vanda! - gritou o marido de repente. - Vanda, vem aqui correndo!
A mulher correu assustada. Chegou ao banheiro e deu com o marido se observando atentamente ao espelho.
- Eu sempre fui assim, Vanda? Sempre?
- Assim como? - Ela não compreendia. O filho, atrás dela, muito menos.
- Como você pôde aturar essa barba horrorosa durante todos esses anos, Vanda? Heim?
- Não vem com essa, Afonso. Você sempre disse que era o seu charme... - respondeu a mulher, surpresa.
- Pai... - Juninho começava a se preocupar.
- Minhas preces foram ouvidas! - A mulher ria, voltando pro quarto.
- Acho que eu ficaria melhor sem barba...
- Mãe, não deixe... - Juninho correu pra mãe, assustado com o rumo das coisas. - Isso é viagem, mãe, é viagem!...
- Então não se meta na viagem de seu pai... - ralhou a mãe, beliscando o menino, sem conseguir parar de rir.
- Vanda, faz quantos anos que você não solta seu cabelo? - perguntou o marido de volta do banheiro, retirando de repente a fivela da cabeça da mulher.
- Eu? - Ela, surpresa, tentou impedir mas foi tarde. - Afonso! Dá aqui, dá!
- Não fica melhor assim, filho, não fica? Eu sempre disse mas ela nunca escutou.
- Pai, eu acho que... será que...
- Juninho, você tem algum bolero aí pra eu dançar com sua mãe? O que é isso aqui?
- Ann, Raimundos, pai. Acho que você não vai gostar muito não...
- Tá vendo, Vanda? Precisamos comprar uns cedês pra nós dois.
- Pai, bota um pouco desse colírio aqui...
- Afonso... - disse a mulher, o tom da voz levemente lânguido, como havia muito tempo ela não experimentava. - A noite está ótima... Bem que a gente podia ir dançar no clube. Diz que hoje tem um conjunto bárbaro...
- Sabe que você teve uma grande idéia, Vanda?
- Pai, não precisava pingar tanto. Mãe, você tem certeza que...
- Enquanto você reserva a mesa vou tomar logo meu banho, Afonso - falou a mulher correndo pro banheiro. - Será que ainda sei dançar?...
- E por que a gente não toma banho junto? Economiza água...
Naquela noite eles voltaram pra casa às quatro da manhã. Juninho ainda rolava na cama, preocupado. Não conseguira dormir e tampouco conseguira estudar pra prova. Escutou abrirem a porta e experimentou um alívio imenso. Os dois entraram se esforçando pra não fazer barulho - mas não conseguiram.
- Afonso, você ficou um pão sem a barba...
- Aqui não, Vanda, vai acordar o Juninho...
Juninho não conseguia pegar no sono. Não lembrava de ter alguma vez se preocupado daquela maneira com os pais. Não devia ter permitido, sabia que não devia. E se tiverem realmente gostado? E se ficassem viciados, o que podia acontecer? Seu pai tirara a barba depois de 5 anos, ficara tão estranho, não conseguira olhar direito pra ele. E se chamarem os amigos pra fumar, o que eles acharão? E o trabalho do pai, não podia prejudicar? E a mãe então, nunca vira a mãe rir tanto, parecia uma... uma débil mental. E se dessem muita bandeira e a polícia descobrisse? - a vergonha que seria... Não podia fazer mal à saúde deles? Não era perigoso fumar e sair por aí?
Por fim eles se recolheram ao quarto. Juninho virou pro lado e fechou os olhos, tentando esquecer, tinha de acordar cedo, quase não dormiria. Bom, talvez fosse só empolgação, primeira vez dá nisso mesmo. Pai e mãe são muitos inexperientes pra fumar maconha. Mas ainda ouviu a voz da mãe, um segundo antes de fechar a porta:
- Onde será que ele guarda?
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